Referência: GERALDI, João Wanderley. Prática da leitura na escola. In: GERALDI, João Wanderley (org.). O texto na sala de aula. 4ª Ed. São Paulo: Ática, 2006.
Resenha
O artigo Prática da leitura na escola de João Wanderley Geraldi faz parte do livro O texto na sala de aula, organizado pelo mesmo autor, no qual são discutidas algumas perspectivas sobre o ensino da leitura
Já na introdução o autor defende que o ensino de língua portuguesa deveria centrar-se em três eixos: a leitura de textos, a produção de textos e a análise linguística. Contemplando no processo de ensino aprendizagem dois objetivos interligados: a tentativa de ultrapassar a artificialidade que se cria na sala de aula quanto ao uso da linguagem e possibilitar, sem artificialidade,o domínio da língua padrão oral e escrita.
Geraldi explica que saber a língua é uma coisa, ou seja, é ter o domínio das habilidades de uso da língua em diferentes contextos de interação. E outra coisa é saber analisar a língua, ter o conhecimento de seus conceitos e metalinguagens, apresentando suas características de uso e estruturais.
O autor aponta que na prática escolar institui-se uma atividade linguística artificial, pois os papéis de locutor/interlocutor não se efetivam. Dessa forma, o aluno muitas vezes se anula, ou seja, escreve/diz o que o professor espera ler/ouvir e não a verdadeira interpretação do aluno. Para Geraldi esse falseamento da interlocução ocorre de tal modo, que “o professor e a escola ensinam; o aluno aprende (se puder)” (2006, p.89). Mostra também o quanto é fácil de evidenciar essa artificialidade na escola: os alunos não escrevem textos, apenas produzem redações; eles não lêem textos, somente fazem exercícios de interpretação e análise textual, e por último, os alunos não fazem análise linguística, aplicam a dados análises preexistentes.
Após essa análise do contexto escolar, Geraldi afirma que é preciso ultrapassarmos essa artificialidade para dinamizarmos a prática didática. E esclarece que seu objetivo nesse artigo é aprofundar-se na questão da prática de leitura.
Dessa forma, na segunda parte, A prática da leitura, Geraldi inicia conceituando a leitura, a partir de uma citação de Marisa Lajolo e concordando com a autora que a leitura não é apenas o decifrar palavras num texto. Mas sim, a partir deste atribuir-lhe significado, dar-lhe sentido e conseguir relacioná-los a outros textos significativos para cada leitor.
A partir dessa citação, o autor revela que o professor tem o compromisso de fazer com que o aluno domine a língua, já que se pode falar em leituras possíveis e em leitor maduro. Isto porque, cada leitor terá a sua construção de sentidos individual. Retoma novamente Lajolo, que define o leitor maduro como aquele que para cada nova leitura altera e desloca significados de tudo que já leu, ampliando sua compreensão dos livros, da vida e das pessoas. Então, o autor questiona como usar essa concepção de leitura na sala de aula sem simular leituras. Postula que a resposta não deve ser simples, que certamente existem várias. Em seu artigo, como está compreendendo e interpretando a linguagem em si, defende que na leitura, o diálogo do aluno acontece com o texto e não apenas com o professor, visto que a leitura deste é uma entre as possíveis e não a única.
Então, Geraldi ressalta algumas posturas diante do texto e as explica nas próximas quatro partes do artigo.
Em a leitura – busca de informações, o autor explica que sua principal característica é o objetivo do leitor, isto é, extrair do texto alguma informação. De modo que se pode orientar essa leitura de duas formas: pela busca de informações com um roteiro elaborado pelo próprio leitor ou por outra pessoa – o professor, por exemplo- (a leitura de um texto teórico) ou sem um roteiro (por exemplo, a leitura de um jornal ou revista).
Para apresentar a leitura – estudo do texto, o autor afirma que esta é mais praticada em outras disciplinas do que na língua portuguesa. Numa tentativa de mudar essa situação, o autor sugere que os alunos tenham um roteiro para estudar o texto. Divide o roteiro em quatro tópicos principais, de modo que o aluno possa especificar: a tese defendida; os argumentos apresentados em favor da tese; os contra-argumentos levantados em tese contrárias e a coerência entre tese e argumentos. Geraldi explica que esses tópicos podem ser desdobrados em outros, levando outras hipóteses, ampliando a interlocução com o texto
Em seguida, em a leitura do texto – pretexto, o autor explica que o “pretexto” envolve uma grande gama de atividades, sendo que, a leitura de um determinado texto pode ser um pretexto para outra leitura. Completa ainda, que essa atividade irá definir a interlocução que se estabelece entre texto e leitor.
Na última leitura destacada, a leitura – fruição do texto, o autor a define como leitura prazerosa. Comenta que ela é um pouco mais rara, pois, como vivemos numa sociedade capitalista, automaticamente espera-se de uma leitura um “produto”, ou, seja uma utilidade, um objetivo; deixando o simples prazer de ler de lado. Geraldi aponta também que esta leitura não se liga apenas à literária, mas também a leitura de um jornal, por exemplo. Aí tem-se a “gratuidade da informação disponível, de que poderemos ou não fazer uso” (2006, p.98).
Ao finalizar o capítulo, o autor ressalta que para se haver sucesso em um incentivo à leitura, é necessário recuperarmos três princípios básicos de nossa vivência de leitores: o caminho do leitor, o circuito do livro e que não há leitura qualitativa no leitor de um livro.
Portanto, percebe-se que o texto possui uma linguagem clara e de fácil compreensão. Assim, o autor conseguiu transmitir de uma forma objetiva que é preciso de uma interlocução entre texto e leitor, para que se possa então perceber suas possíveis leituras; ensinando ao aluno a descobrir a sua própria leitura.
Enfim, para os alunos de graduação em letras e áreas afins, que se interessam pelo ensino da leitura, o conhecimento desse artigo é de real importância para o esclarecimento da compreensão da construção de sentidos na leitura.
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Professor Geraldi,aborda a importância que precisamos rever alguns métodos de aprendizagem nos dias atuais.A evolução do mundo traz a cada um,uma responsabilidade como individuo da sociedade de transformar e mudar,inovar e criar novos desafios.
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