quarta-feira, 7 de abril de 2010

Estudos sobre a Dialetologia

A DIALETOLOGIA

Ao discutirmos o conceito de dialetologia, é interessante retomar o conceito de língua e dialeto. Saussure (2006) explica que a língua é um conjunto de signos que não pode ser modificada por quem fala e é obedecida pelas leis estabelecidas pela comunidade. Segundo Bechara (2006) é uma unidade linguística ideal, ou seja, que comunique e expresse a fala. E o dialeto, de acordo com Coutinho (1956) é a modificação regional de uma língua. Desta forma, Cardoso e Ferreira (1994) explicam que os falantes de uma mesma língua, mas de diferentes regiões, possuem características linguísticas variadas e “se pertencem a uma mesma região também não falam da mesma maneira tendo em vista os diferentes estratos sociais e as circunstâncias diversas da comunicação” (p.12). Assim é possível compreender porque existem tanto dialetos num país, e que um dialeto só existe se for falado por uma comunidade regional.
Para deixar bem claro o que se entende por dialeto, vale conceituar a isoglossa. Esta é segundo Cardoso e Ferreira (1994) “uma linha virtual que marca o limite, também virtual, de formas e expressões linguísticas” (p.12/13), por exemplo, a pronúncia de uma vogal, o significado de uma palavra ou o uso de uma característica sintática; como em:

bergamota, mexerica, tangerina, para designar certa fruta cítrica, respectivamente no Rio Grande do Sul, Nordeste em geral, Rio de Janeiro;
pobrema por problema, poliça por polícia, seje por seja, esteje por esteja,de uso freqüente em grupos de baixa escolaridade. (http://www.filologia.org.br/abf/volume2/numero1/06.htm)

Dessa forma, os dialetos são um conjunto de isoglossas que se somam e evidenciam uma relativa homogeneidade dentro de uma comunidade linguística em confronto com outras.
A língua, além das variações regionais, possuiu ainda os socioletos (variedades próprias de diferentes grupos sociais, etários ou profissionais) ou idioletos (variedades próprias de cada indivíduo).
Entende-se dessa forma, a dialetologia como o estudo das falas, tanto de suas variedades regionais como sociais. A dialetologia tem um maior interesse pelos dialetos regionais, mas estuda também os dialetos urbanos. Ela se identifica com a lingüística diatópica, horizontal.
Com muita segurança afirma Silva-Corvalán (1988:8), apud CARDOSO e FERREIRA, 1994 que

a dialetologia é uma disciplina com larga tradição, com uma metodologia bem estabelecida e uma rica e valiosa literatura. É indiscutível que a dialetologia trouxe contribuição de importância à sociolinguística e à linguística geral. (...)
Sociolinguística e dialetologia se tem considerado até certo ponto sinônimas uma vez que ambas as disciplinas estudam a língua falada, o uso linguístico e estabelecem as relações que existem entre certos traços linguísticos e certos grupos de indivíduos.(CARDODO e FERREIRA, 1994, p.19)

Enfim, é possível dizer que a dialetologia e a sociolinguística reconheceram desde o início a heterogeneidade linguística.



METODOLOGIA DO TRABALHO DIALETAL

Segundo Cardoso e Ferreira (1994), a metodologia do trabalho dialetal tem alguns passos definidos, com sentido de ordenar e proporcionar mais rendimento na investigação e disciplinar a pesquisa. Tem, assim as seguintes etapas: preparação da pesquisa, execução dos inquéritos, exegese e análise dos materiais recolhidos e divulgação dos resultados obtidos.
Na preparação da pesquisa parte-se inicialmente do campo linguístico a ser investigado. Após definir a área é preciso desenvolver etapas que levem à constituição da pesquisa. De acordo com Cardoso e Ferreira (1994), essas etapas são “de um lado desenvolver-se um conjunto de estudos que servirão de suporte ao trabalho e, de outro, proceder-se de” uma localidade (s) e de informante (s) “e de método de investigação que dê à pesquisa o embasamento teórico” (p.23).
A execução dos inquéritos, segundo as autoras, envolve as questões de acesso à localidade, o contato com o informante, a identificação do material arrecadado e o preenchimento da ficha de identificação do informante.
Ao fazer a análise dos materiais de campo é imprescindível um trabalho de explicação e explanação dos resultados obtidos.
Na divulgação dos resultados de um trabalho dialetal ocorre algo um pouco diferente das outras ciências. Normalmente os resultados são conclusões de uma dúvida inicial sanada pela pesquisa. Mas, na pesquisa dialetal os resultados são uma etapa terminada, pois, por trabalhar com a língua falada, indica um estudo continuado. Os resultados de hoje certamente serão diferentes se a mesma pesquisa for aplicada daqui dez anos.


GRAZIADIO ISAIA ASCOLI (1829-1917)

Ascoli foi um grande lingüista italiano. Ele é o fundador da dialetologia. O italiano partiu de dados sincrônicos e procurou nas línguas vivas uma explicação para as línguas do passado, apresentando a tese do substrato. Criticou os neogramáticos pela importância extrema que deram à analogia. Pois um mesmo som ou grupo de sons pode evoluir de maneira diversa de uma palavra para outra, porque as condições em que cada um se encontra são diferentes.


SUBSTRATO

De acordo com Basseto (2001), numa situação de bilinguismo ocorre o substrato, ou seja,
A língua de maior prestígio cultural e político tende a se impor naturalmente sobre a outra, que passa a perder seus falantes, que acabam por adotar o idioma de maior prestígio, até que o uso de sua língua materna se torne restrito (...). No caso de ser a língua do povo vencido que deixa de ser usada para se utilizar da do vencedor, de maior prestígio, deixando, contudo, marcas nessa última , fala-se de substrato”.(BASSETO,2001, p.153)

Basseto (2001) afirma que Graziadio Iasia Ascoli definiu substrato como “as marcas linguísticas advindas do povo que abandona seu idioma, levadas para a língua que passa a adotar”; e, esta definição foi seguida por Albert Schleicher e Matteo Bartoli.
De acordo com Basseto (2001), as marca do substrato estão, com mais frequência, no léxico e na fonética, sendo raras na morfologia e muito raras na sintaxe. O autor apresenta como exemplo, no Brasil, o substrato tupi (bororo, carajá, cataquina, etc.) que forneceu ao português um grande número de topônimos, designações de fauna e flora, de utensílios, entre outros.
Basseto (2001) também explica que a ação do substrato costuma ser lenta; que a definitiva inclusão de um fato linguístico modificado por essa ação receptora pode levar séculos para acontecer. E que, por isso, para a ação do substrato ocorrer depende de causas sociais, históricas e estilísticas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BASSETO, Bruno Fregni. Elementos da Filologia Românica. São Paulo: Edusp, 2001.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Ed. Lucerma, 2006.

CARDOSO, Suzana Alice; FERREIRA, Carlota. A dialetologia no Brasil. São Paulo: contexto, 1994.

COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao livro Técnico, 1956.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2006.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Graziadio_Isaia_Ascoli acesso em 20/03/2010.
http://www.filologia.org.br/abf/volume2/numero1/06.htm acesso em 20/03/2010

5 comentários:

  1. adorei o texto, vai ajudar me muito num trabalho que tenho a fazer!!

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  2. Gostei muito e será utilizado no meu TCC. Obigada!

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  4. Gostei muito e será utilizado para o meu TCC. Obigada!

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