Ficou curioso? Confira, abaixo, a resenha do livro:
Resenha
O
jornalismo literário é marcado pela hibridez do discurso jornalístico e
literário. A linha supostamente divisória dos dois é tão tênue que é impossível
dividi-los. A partir deles, nascem os livros-reportagem. Esses são ricas
leituras tanto pela literariedade como a realidade que apresentam. Afinal, são
grandes reportagens que não cabem no jornal e por isso extrapolam o espaço dos
livros recebendo certo lirismo da literatura. E depois do sucesso dos livros-reportagem
a “Revolução das Crianças”, sobre a Revolução sandinista e “Rota 66”, publicado
no ano de 1992, que denuncia as ações da Policia Militar do Estado de São
Paulo, o jornalista gaúcho, Cláudio
Barcelos de Barcelos, mais conhecido como Caco Barcellos, nos contempla
com Abusado: o dono do Morro Dona Santa
Marta. Esse livro-reportagem relata a história de Márcio Amaro de Oliveira,
conhecido como Marcinho VP – O Dono do Morro Dona Marta.
Caco Barcellos
nasceu em Porto Alegre, RS, na vila São José do Murialdo em 5 de março de
1950. Trabalhou como taxista e outras
profissões antes de se tornar repórter. Começou no jornalismo como repórter do
jornal Folha da Manhã, do grupo gaúcho Caldas Junior. Foi um dos criadores da
Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre e da antiga revista Versus. Hoje, é
um dos repórteres mais famosos o Brasil, com mais de vinte anos de atuação no
Globo Repórter, Fantástico, Jornal Nacional e Profissão Repórter.
Abusado é uma
reportagem profunda, escrita em forma de romance, a qual conta a história de um
menino que mais tarde se tornaria o imperador da favela Dona Marta, localizada
na Zona Sul do Rio de Janeiro. O protagonista dessa não ficção é Juliano VP (codinome
de um dos maiores traficantes do RJ) que representava a terceira geração do
Comando Vermelho (CV). Foi essa geração que levou o CV ao controle do tráfico
de drogas na cidade maravilhosa.
O livro é dividido em três
partes: tempo de viver (com 20 capítulos), Tempo de morrer (com 10 capítulos) e
Adeus às armas (com 8 capítulos), totalizando 559 páginas com notas do autor,
posfácio e referências. Barcellos levou quatro anos na produção do livro.
O jornalista descreve como eram
planejadas e executadas as operações das grandes corporações criminosas que
comandam o tráfico de drogas e outras atividades criminosas no Rio de Janeiro.
A partir da história de Juliano VP (sua infância, adolescência, entrada e
ascensão no tráfico de drogas na favela Santa Marta) tem-se um retrato
histórico da ocupação do morro pelo Comando Vermelho e da implantação de sua
disciplina de crueldade. Mas, Juliano também é um personagem fascinante, pois é
um criminoso com refinado gosto literário, preocupado com o destino da
comunidade favelada do estado e com contatos desde os violentos chefes do CV
até importantes intelectuais cariocas.
Esses contatos com os
intelectuais teve grande repercussão entre os comandantes de outros morros
ligados ao CV que difundiram o seu apelido de Poeta e a crença de que o chefe
da Santa Marta era um louco que matava pouco, não era muito interessado em
dinheiro e tinha o sonho de se tornar uma espécie de embaixador do tráfico no
Rio. Caco evidencia ainda o desenvolvimento da cidadania dos moradores da Santa
Marta, seus esforços e conquistas. O livro é um relato de vida e de morte que
mostra de forma clara o submundo da criminalidade carioca.
Abusado é rico em detalhes.
Caco prende o leitor, transportando-o para as vielas e becos de Santa Marta.
Com uma linguagem rica em detalhes da fala dos moradores da favela e ao mesmo
tempo formal, quando evidenciada a “narração”/informação, Barcellos conquista
seu leitor, prende-o.
Certamente é um livro que deve
ser lido por estudantes de jornalismo, assim como pelos profissionais já em
atuação, pois ele é um “aprendizado” sobre jornalismo investigativo,
informação, escrita e livro-reportagem.
Rferência:
BARCELLOS, Caco. Abusado: o dono do Morro Dona Santa Marta. 15. ed. Rio de Janeiro:
Record, 2005.
Por Luana Iensen Gonçalves
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