O múltiplo Benaduce
No primeiro semestre no qual eu
fui colega do Benaduce Guilherme (porque a sua apresentação é o Benaduce na
frente e é assim que gosta que o chamem), imaginava que ele seria aquele
estudante do contra: um olhar intimidador, como se fizesse uma leitura de que
acontecia ao seu redor e já se pronunciaria fora do eixo imaginário da turma.
Típico da primeira impressão, mas que bom que existem outras.
Preto no Branco. Arquivio Pessoal |
Só com o tempo e a convivência em
algumas disciplinas, aprendi que aquele era um olhar de quem capta o momento
das pessoas ao seu redor principalmente por meio de câmeras. E sua captação,
mesmo não se considerando alguém sensível diante de algumas situações, torna-se
mais humana por apresentar-se em preto e branco, ou melhor, preto no branco. O
instante do sentimento fica tatuado no papel.
Quando tive o privilégio de
conversar com ele, fui descobrindo que esse olhar já se manifestava desde o
ensino médio. O que talvez fosse uma das razões por trocar a filosofia por
jornalismo e iniciar uma nova fase de questionamentos. Na época da faculdade,
por trabalhar com taekwondo, cancelou a matrícula do jornalismo na federal e
começou a cursar educação física paralelamente ao jornalismo na Unifra. E isso
se foi até ao 7º semestre do curso da federal, quando, em um momento de
lucidez, percebeu que ser educador físico não era a sua escolha para uma vida
toda.
Optar pelo jornalismo foi a
possibilidade de continuar a ser chato, que para ele significa ser questionador
do pensamento alheio. Talvez aí esteja o porquê de um olhar observador. Talvez
aí esteja a sua autodefinição de ser uma pessoa de fases, multiplicidades.
Além da conversa corpo a corpo,
um meio de hoje descobrirmos algumas pinceladas da identidade de uma pessoa é
espiarmos uma rede social dela. E nesse quesito, Benaduce define que seu perfil
no facebook evidencia três temas que ele aprecia sem moderação: trabalho,
mulher e cerveja.
O jovem captador de momentos concorda
com a máxima que o trabalho dignifica o homem. A possibilidade de trabalhar
atualmente em uma revista o deixa satisfeito, pois é um trabalho palpável. É
possível ver, tocar o material e perceber o quanto pode transcender o papel de
um jornalista, já que até chegar àquele produto, toda uma rotina produtiva
precisou ser organizada.
Conforme poetizou Martinho da
Vila, Benaduce já teve “mulheres de todas as cores / De várias idades, de
muitos amores / [...] do tipo atrevida / Do tipo acanhada, do tipo vivida /
[...] Mulheres cabeça e desequilibradas / confusas, de guerra e de paz”. A
admiração pelo sexo oposto e pelas várias faces secretas que podem emanar de
uma mulher possibilitou o viver uma paixão por cada uma dessas diferentes
mulheres.
Outra face da personalidade do
Benaduce é a terceira palavra-chave: cerveja. Esse precioso líquido, para ele,
nada tem a ver com exageros, mas sim com o prazer da apreciação. Melhor ainda
se for da companhia de amigos ou família regrados de uma boa conversa, e, por que
não, de uma boa filosofia.
Desvendar a personalidade de um
desconhecido não é fácil. Às vezes, a insegurança de fazer uma pergunta
inadequada pode nos fazer perder a chance a conhecer melhor o outro. Mas a
possibilidade de mudar as nossas certezas a respeito de alguém não tem preço.
Conhecer o outro é poder olhar para nós mesmos e renovarmos os questionamentos.
Luana Iensen Gonçalves - março 2015
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