Do Guanches à mistificação do Gaúcho e a comemoração da Semana
Farroupilha
“Popularizar a Semana
Farroupilha, de modo que a população se aproprie desse movimento e sentimento
de ser gaúcho”, foi o objetivo, explica Lima. Por isso, com
o tema Nossas Riquezas, a Semana
Farroupilha 2012, em Santa Maria, teve seu galpão montado na Praça Saldanha
Marinho. Durante a semana, a 13° Região Tradicionalista (RT) e a prefeitura prepararam
a 1° Ronda Artístico Cultural organizada pela região
e contou com oficinas artesanais, culturais e campeiras e apresentações
artísticas, informou o coordenador da 13° RT, João Carlos Cardozo de Lima, 53
anos.
Com essa programação diversificada aberta para
o público, há também o questionamento do “quem é gaúcho”? Todos os nascidos nos
estado, quem perpetua as tradições ou quem participa do dos centros de
tradições. As opiniões são diversas e enriquecem a procura de conhecimento
sobre essa data.
Os
tradicionalistas – de bota e bombacha.
O amor por cultuar as
tradições no s Centros de Tradições Gaúchas (CTG) geralmente inicia na infância
e não foi diferente com o 1° Guri Farroupilha da 13° RT, Helder Moreira
Machado, 14 anos. Ele começou a participar de CTG aos cinco anos porque a
madrinha era muito ligada à dança tradicional. Como guri, o jovem ressalta que
a importância do cargo “é levar as tradições adiante, respeitando a região. É
uma responsabilidade grande, um título que conquistamos a partir de provas, num
concurso”.
E no acompanhamento de
desses jovens, que têm uma maratona de prova para garantir os cargos de prendas
e peões com o objetivo de passar adiante as tradições, estão pais e mães.
Esses, que mesmo sendo gaúchos muitas vezes não tinham pensado participar de
CTG, acabam se apaixonando pelo o que os filhos fazem. Para a mãe da 1° Prenda
da 13°RT, Saionara Michel Ouriques, 46 anos, ser mãe de prenda é “um orgulho
imenso. Nunca imaginei minha filha tão envolvida em ensinar e repassar as
tradições para as crianças. Hoje, não imagino ela fora o tradicionalismo”.
Os
gaúchos – não é preciso pilcha para conhecer o Rio Grande
O outro lado da história
é que nem todos têm condições financeiras de manter-se em um centro de
tradições. Mas, as raízes do sul mostram que o ser gaúcho está mais em valores
do apenas preservar indumentárias. O músico do Cambonaço, Fábio Freitas, 26,
criou-se nos centros de tradições, porém, acredita que a proibição do tchê music nos CTGs é uma ação atrasada,
pois proíbem uma evolução natural da música. Para o músico esses é um dos
motivos que afasta os jovens dos atuais bailes tradicionalistas, além das lista
de como se pode ou não vestir-se para dançar.
Além disso, há muitos
mitos em torno da comemoração do 20 de setembro e do termo gaúcho. Originalmente, guanches era o homem que vivia como
andarilho sem um lugar certo para morar, sem lei. Com o início da escrita literária
no estado, têm-se as histórias com os bravos gaúchos, fortes e honrados. É o
início da criação do mito do gaúcho. Vivenciado até hoje e revitalizado a cada
setembro.
A professora de
história, Naiani Machado da Silva Fenalti, 26 anos, comenta que a Revolução
Farroupilha (RV) faz parte do contexto da história do estado, e que ela representa
a elite gaúcha e não o povo como percebe que os integrantes de CTG costumam
passar. “A RV foi fomentada pela elite gaúcha (pecuaristas, fazendeiros) que
queria melhorias na economia. No início não tinha interesse de separar o estado
do Brasil. Essa ideia separatista surgiu apenas anos depois, justamente pelo
tempo que estava durando as batalhas”.
Naiani não é contra ao
movimento tradicionalista, mas o que lhe assusta como professora é que “muitos de
meus alunos que participam de CTG, não sabem que a revolução foi da elite, que não
tiveram vencedores e vencidos, e sim, um acordo de paz entre os lados,
justamente porque não havia mais recursos financeiros e humanos para continuar
lutando. Não existe uma derrota em si, mas, sim, um enfraquecimento da guerra”.
Nesse sentido, a professora acredita que a Semana Farroupilha deveria ser
tratada com menos idealização pelos gaúchos, justamente por não ter sido uma
revolta popular e sim da elite.
Para aqueles que gostam de pilchar-se ou querem conhecer as tradições, João
Carlos Cardozo de Lima enfatiza que as regras de conduta para participar dos
CTGs são feitas de tradicionalistas para tradicionalistas. “Não visamos obrigar os visitantes a se
pilcharem, mas quem opta por ser tradicionalista segue essas regras”.
Por Luana Iensen Gonçalves.
Acadêmica do curso de Jornalismo –
Unifra.
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