quinta-feira, 5 de julho de 2012

Dica de Leitura - O Abusado - Caco Barcellos

Você gosta de jornalismo investigativo? De um livro-reportagem que evidencia os discursos jornalístico e literário? Então, não deixe de ler Abusado: o dono do Morro Dona Santa Marta, do jornalista Caco Barcellos.


Ficou curioso? Confira, abaixo, a resenha do livro:


Resenha

O jornalismo literário é marcado pela hibridez do discurso jornalístico e literário. A linha supostamente divisória dos dois é tão tênue que é impossível dividi-los. A partir deles, nascem os livros-reportagem. Esses são ricas leituras tanto pela literariedade como a realidade que apresentam. Afinal, são grandes reportagens que não cabem no jornal e por isso extrapolam o espaço dos livros recebendo certo lirismo da literatura. E depois do sucesso dos livros-reportagem a “Revolução das Crianças”, sobre a Revolução sandinista e “Rota 66”, publicado no ano de 1992, que denuncia as ações da Policia Militar do Estado de São Paulo, o jornalista gaúcho, Cláudio Barcelos de Barcelos, mais conhecido como Caco Barcellos, nos contempla com Abusado: o dono do Morro Dona Santa Marta. Esse livro-reportagem relata a história de Márcio Amaro de Oliveira, conhecido como Marcinho VP – O Dono do Morro Dona Marta.
Caco Barcellos nasceu em Porto Alegre, RS, na vila São José do Murialdo em 5 de março de 1950.  Trabalhou como taxista e outras profissões antes de se tornar repórter. Começou no jornalismo como repórter do jornal Folha da Manhã, do grupo gaúcho Caldas Junior. Foi um dos criadores da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre e da antiga revista Versus. Hoje, é um dos repórteres mais famosos o Brasil, com mais de vinte anos de atuação no Globo Repórter, Fantástico, Jornal Nacional e Profissão Repórter.
Abusado é uma reportagem profunda, escrita em forma de romance, a qual conta a história de um menino que mais tarde se tornaria o imperador da favela Dona Marta, localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro. O protagonista dessa não ficção é Juliano VP (codinome de um dos maiores traficantes do RJ) que representava a terceira geração do Comando Vermelho (CV). Foi essa geração que levou o CV ao controle do tráfico de drogas na cidade maravilhosa.
O livro é dividido em três partes: tempo de viver (com 20 capítulos), Tempo de morrer (com 10 capítulos) e Adeus às armas (com 8 capítulos), totalizando 559 páginas com notas do autor, posfácio e referências. Barcellos levou quatro anos na produção do livro.
O jornalista descreve como eram planejadas e executadas as operações das grandes corporações criminosas que comandam o tráfico de drogas e outras atividades criminosas no Rio de Janeiro. A partir da história de Juliano VP (sua infância, adolescência, entrada e ascensão no tráfico de drogas na favela Santa Marta) tem-se um retrato histórico da ocupação do morro pelo Comando Vermelho e da implantação de sua disciplina de crueldade. Mas, Juliano também é um personagem fascinante, pois é um criminoso com refinado gosto literário, preocupado com o destino da comunidade favelada do estado e com contatos desde os violentos chefes do CV até importantes intelectuais cariocas.
Esses contatos com os intelectuais teve grande repercussão entre os comandantes de outros morros ligados ao CV que difundiram o seu apelido de Poeta e a crença de que o chefe da Santa Marta era um louco que matava pouco, não era muito interessado em dinheiro e tinha o sonho de se tornar uma espécie de embaixador do tráfico no Rio. Caco evidencia ainda o desenvolvimento da cidadania dos moradores da Santa Marta, seus esforços e conquistas. O livro é um relato de vida e de morte que mostra de forma clara o submundo da criminalidade carioca.
Abusado é rico em detalhes. Caco prende o leitor, transportando-o para as vielas e becos de Santa Marta. Com uma linguagem rica em detalhes da fala dos moradores da favela e ao mesmo tempo formal, quando evidenciada a “narração”/informação, Barcellos conquista seu leitor, prende-o.
Certamente é um livro que deve ser lido por estudantes de jornalismo, assim como pelos profissionais já em atuação, pois ele é um “aprendizado” sobre jornalismo investigativo, informação, escrita e livro-reportagem.

Rferência: 
BARCELLOS, Caco. Abusado: o dono do Morro Dona Santa Marta. 15. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.

Por Luana Iensen Gonçalves

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