domingo, 21 de setembro de 2014

Tradição é respeitar!


“Eu sou do Sul, é só olhar pra ver que...” - eu sou preta, branca, gorda, homossexual, heterossexual, idosa, jovem, “eu sou do Sul”. Um Centro de Tradições Gaúchas (CTG), acima de tudo, é um lugar social, ou seja, um espaço de utilidade pública para a população utilizar. Sem restrições, todas as famílias deveriam ser bem-vindas para dançar, conversar, produzir eventos. O pedido de casamento a ser realizado em um CTG pela juíza foi uma decisão sensata. O incêndio esse espaço foi uma violação.
            Mesmo os CTG filiados ao Movimento Tradicionalista, utilizam suas sedes para outros eventos. Os sócios (e não sócios, já que esse espaço físico pode ser alugado) realizam atividades diversas: festas de formatura, aniversários e, sim, casamentos. Acredito que o senhor Paulo Brandt esteja desatualizado, ou como comentado pela Luciana Carvalho, com círculo de amizades reduzido no meio tradicionalista. Seria interessante atualizar suas redes sociais e verificar que um CTG tem vida própria durante o ano, não funciona apenas na Semana Farroupilha. Dancei anos, fui prenda, e nunca tive problemas ao conviver com homossexuais nesse ambiente. São pessoas como qualquer outra. Aliás, em qualquer ambiente. Sinto muito, senhor Brandt, mas, sim, um casal caracterizado de gaúcho é bem recebido em outro “grupo” cultural, a mulata do carnaval pode dançar um vaneirão, e um casal “hétero” pode aproveitar a noitada numa boate GLS.
            Parece-me que muitas pessoas têm aproveitado tais casos, da torcedora gremista, do incêndio no CTG, como tantos outros, para incitar a violência - mesmo podendo promover a paz. Essas manifestações, verbais ou físicas, têm violado a cidadania. Todas as culturas, todos os credos, toas as opções sexuais precisam ser respeitadas para que se constituem verdadeiramente como tradições e sejam perpetuadas. Conforme definição do dicionário Aurélio, tradição é conhecimento ou prática resultante de tradição oral. Hoje, mais do que oral, os meios de comunicação, em seus diversos suportes, dão-nos esse espaço de transmissão de expressão, tradição e busca pela igualdade de respeito.
Cada grupo cultural perpassa suas características. O Centro de Tradições Gaúchas cultua a história de nossos antepassados para que não percamos nossa origem. Isso vale para todos conhecerem e perpetuarem ou não. Essa escolha é individual. Já a sede social de um CTG é um espaço público para ser usufruído e aproveitar esses momentos para ressaltar a ideia de Igualdade, Fraternidade e Humanidade 365 dias no ano. Isso sim é Tradição. E mais, para que se mantenham os curiosos dessa tradição, é preciso aprender a dialogar com as outras culturas – até mesmo nas redes sociais – para que as futuras gerações continuem a alimentar esse desejo de respeito. Eu sou do Sul. E você?

Luana Iensen Gonçalves
Professora de Língua Portuguesa

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

#curteaí!!!


O que as pessoas almoçam é fotografado, o que elas vestem é fotografado, seus bichos são fotografados. A rápida evolução das tecnologias formou uma geração selfie e hashtag que posta um verdadeiro diário em suas timelines sem se preocupar com os sentimentos do outro. Essa evolução formou uma geração de banalizadores da vida real. Foi inevitável e infelizmente é um atrasado emocional e intelectual para a sociedade atual e futuras gerações essa banalização nas redes sociais.
            Os eventos cotidianos e as emoções são banalizados constantemente na internet. Ao acessar qualquer rede social, visualizamos injúrias, fotos de acidentes, espancamentos, vídeos de execuções. Mostrar o pior do ser humano e o desrespeito ao próximo está naturalizado na rede, parece que as pessoas sentem-se inatingíveis por fazerem isso “protegidos” por aparelhos tecnológicos. Exemplo recente que comprova essa desmoralização emocional, foi durante o velório do candidato à presidência, Eduardo Campos. Mesmo num momento de dor e tristeza da família, muitas pessoas aproveitaram para tirar uma selfie no velório e compartilhar nas redes sociais. Tal atitude gerou revolta nos comentários, o que evidencia que ainda podemos amenizar esse quadro.
            Outro lado obscuro dessa banalização é o empobrecimento intelectual das novas gerações. A maioria dos adolescentes não leem totalmente o texto ou informação que compartilham, curtem ou comentam nas redes sociais. Ainda, em compartilhamentos de páginas de humor ou em publicações em suas timelines, muitas pessoas denominam textos a autores famosos, mas que não pertencem a eles. Divulgando assim informações incoerentes e propagando um clico vicioso de compartilhamentos. Marina Castro, da Agência J.Press de Reportagens, confirma que Verissimo, Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu, Arnaldo Jabor e Mario Quintana são constantemente citados como autores de frases e versos que não são seus. 
            As evoluções tecnológicas serão cada vez mais presentes em nossa sociedade. As crianças já crescem brincando em tablets. Não se pode e nem devemos fugir desse problema de conexões banalizadores. Diante desse desafio, precisamos amenizar a situação, portanto, com o compartilhamento de uma nova visão de aproveitamento da tecnologia. Nas escolas, os alunos devem ser motivados a usarem as redes sociais e conscientizados a partir de oficinas sobre o perigo do mau uso delas. Aos adultos, cabe uma reeducação pessoal sobre cidadania e respeito ao próximo, seja no mundo real ou virtual.

Luana Iensen Gonçalves

Publicado no jornal Diário de Santa Maria, 03 de setembro de 2014.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Rapidez garante informação com credibilidade?

Luana Iensen Gonçalves
O quê? Quem? Como? Onde? Quando? Por quê? Responder de forma clara e concisa essas perguntas pelo jornalista consiste no lide, ou seja, a parte básica notícia. Mas, com a ampliação do acesso à internet, a informação tem sido noticiada cada vez mais rapidamente pelos meios de comunicação. A questão é que tanta agilidade na publicação nem sempre garante qualidade e credibilidade da notícia que chegam a nós, os leitores.
A apuração é a “alma do negócio” jornalístico. O jornalista com formação acadêmica apreende, testa e prática diferente técnicas de escrita, como também de apuração para, assim, informar com clareza. Apurar, por exemplo, com legibilidade para conquistar o leitor e ainda cumprir a função social que o jornalismo exerce: mostrar a verdade. Entretanto, inúmeras vezes acontece o contrário: ele não tem tempo para apurar de modo eficiente e ouvir diferentes fontes (informantes presentes no acontecimento) para, então,  redigir e publicar uma notícia.
Eis o problema de nossa era tecnológica: o tempo. A concorrência entre os meios de comunicação para divulgar primeiro aquele “furo” (notícia em primeira mão) faz com alguns jornalistas cometam alguns equívocos. Ao presenciar um fato ou receber uma informação, muitas vezes, o jornalista se precipita ao publicar on-line seu texto, querendo ser o primeiro, e acaba por não fazer uma apuração completa. Casos práticos ocorrem diariamente em “sites” noticiosos, como a recente notícia de que um nigeriano teria morrido em Maranhão com o vírus ebola. Dias depois, o Mistério da Saúde divulgou uma nota para esclarecer que não há casos suspeitos ou confirmados de ebola no Brasil - como uma resposta ao boato que circulou em ambientes virtuais.
Sendo assim, para se ter respostas coerentes e legítimas para as perguntas as quais compõem o lide, é preciso tempo. Mesmo com pressão do tempo e das tecnologias, o trabalho de um bom jornalista precisa de organização, de um texto claro, com uma gramática correta, e uma informação apurada. Convém que as universidades continuem a investir em uma formação de qualidade nos cursos de Comunicação Social e que as empresas de comunicação valorizem esse trabalho de preferir a credibilidade à rapidez.


O preconceito linguístico na região de Carazinho.

Hoje divido o espaço com uma colega do curo. Aproveitem o texto: O preconceito linguístico na região de Carazinho. O relato apresentado po...